No passado fim-de-semana, mais uma vez, a arbitragem volta a estar no centro da polémica, no principal campeonato profissional de futebol português.
No jogo disputado na sexta-feira em Alvalade, entre o Sporting e Tondela, o lance do primeiro golo da equipa visitante, foi alvo de inúmeras análises e apreciações com conclusões, por vezes, completamente distintas, pelos especialistas na matéria, tendo a exibição do jovem árbitro Luís Ferreira, sido arrasada pelas hostes leoninas, que se consideraram prejudicadas pela sua atuação.
Na verdade, a pretensa falta sobre o jogador Nathan do Tondela, que deu origem à expulsão do guarda-redes leonino Rui Patrício, e subsequente marcação de uma grande penalidade contra o Sporting, fez e ainda fará correr muita tinta, ao longo da presente competição.
Refira-se ainda que, Luís Ferreira, árbitro do referido jogo, na sequência do lance supra mencionado, expulsou o Presidente do Sporting, Bruno de Carvalho por protestos, tendo este, sem peias, diante de toda a comunicação social, proferidas críticas duríssimas contra o árbitro e contra Vítor Pereira atual Presidente do Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol (FPF).
Se por um lado, se aceita e reconhece que não foi só por causa do mencionado lance, que o Sporting não conseguiu vencer o jogo, reconheça-se que, jogar com dez jogadores durante mais de uma hora, devido a um eventual erro de arbitragem, condiciona sempre qualquer estratégia desportiva vitoriosa inicialmente concebida.
Mas ainda não refeito de tanta celeuma e crispação, no dia seguinte, no jogo entre o Estoril e o SL Benfica, também se verifica um lance que não originou tanta polémica, em virtude da vitória difícil das “águias” no Estádio António Coimbra da Mota, cujo resultado, conduz o presente campeonato ao rubro, atendendo à diminuta distância entre os dois primeiros classificados, eternos rivais de Lisboa.
Corria o minuto 67 do jogo, quando uma bola na área do Estoril, após cruzamento de Eliseu na esquerda, Pawel Kieszek, atrapalhado por dois colegas, não consegue afastar o esférico, tendo este de forma caprichosa, desviando ligeiramente nas costas de Pizzi encaminhando-se para a baliza, dando a nítida sensação de golo.
De forma pronta, o polaco reagiu, agarrou a bola e seguiu o jogo, perante os festejos dos jogadores do Benfica que pressionavam o árbitro. Entretanto, o árbitro Vasco Santos, auxiliado pelo seu assistente, decidiu nada assinalar, deixando na altura o marcador em 1-1. Contudo, no Estádio e em casa ficou a dúvida: a bola entrou ou não?
A televisão mostrou diversas repetições e nenhuma delas esclarece, de modo algum, se a bola entrou ou não… Se os encarnados não tivessem marcado, logo de seguida, o segundo golo por Pizzi, sem dúvida alguma que, este lance estaria na primeira página dos jornais de hoje e condenar-se-ia por consequência, a decisão eventualmente incorreta do mencionado árbitro.
Porém, no meu entendimento a verdade é que, quer no lance do jogo de Alvalade, quer no lance do jogo disputado no Estádio António Coimbra da Mota, o ajuizamento e subsequentes decisões dos mencionados árbitros e respetivos árbitros assistentes, dependerão sempre do local em que os mesmos se encontrem e da velocidade em que o lance em questão se desenvolva.
Assim, o Futebol, tal como a grande maioria das restantes modalidades, está sujeito ao juízo de análise subjetivo dos árbitros, que atualmente, se encontram impedidos de recorrer a quaisquer instrumentos tecnológicos, que os possam auxiliar no momento de uma tomada de decisão mais complexa e duvidosa.
Desde há muito que, defendo a introdução de novas tecnologias no futebol, nomeadamente, o vídeo-árbitro e o sistema de GLT (Goal Line Technology), entre outras medidas, como forma de apoio aos árbitros na tomada de decisões difíceis, contribuindo para uma maior credibilidade da modalidade.
Atendendo ao elevado o número de câmaras que temos nos campos de Futebol, tornou-se impossível, hoje em dia, aos árbitros poderem competir com as mesmas, tendo em conta o inegável fator humano, a velocidade do jogo e a incapacidade poderem ver e analisar determinados lances em determinados ângulos, que são determinantes, tal como se constatou neste fim-de-semana, para que possam decidir em conformidade.
Os referidos lances polémicos ocorridos no presente fim-de-semana, nos jogos disputados por Sporting CP e SL Benfica, são um exemplo crasso de que, com a ajuda da tecnologia supra referida, os eventuais erros de decisão dos árbitros de futebol, poderão ser reduzidos, esclarecendo-se dúvidas e amenizando potenciais polémicas futuras radicadas nos mesmos.
Foi a pensar nesta situação que, também na passada semana, na sequência de mais uma reunião da International Football Association Board (IFAB), procedeu-se à recomendação a título experimental, da introdução de tecnologia vídeo como apoio ao trabalho dos árbitros de futebol, cuja proposta poderá ser ratificada formalmente na próxima reunião desta entidade, a realizar em Cardiff no País de Gales, entre os dias 04 a 06 de Março do presente ano e entrada em vigor nas próximas épocas desportivas.
É sabido que, a complexidade desta matéria, surge, na definição dos momentos em que se pode aplicar essas novas tecnologias, sem que da sua aplicação, não se desvirtue aquilo que é o futebol moderno enquanto desporto profissional de alto rendimento e enquanto atividade económica de relevo mundial…
Porém, julgo que se perdeu demasiado tempo à espera daquilo que, hoje em dia, já é inevitável, pois o Futebol, enquanto atividade económica de relevo que origina resultados contabilísticos de centenas de milhões de euros e que emprega milhares de pessoas na Europa, não pode continuar totalmente dependente de juízos de arbitragem mais ou menos subjetivos, sem poder recorrer a instrumentos tecnológicos auxiliares válidos, tal como ocorre, atualmente noutras modalidades, como o ténis.
A tecnologia a favor do Futebol precisa-se…e já…
Lisboa, 18 de Janeiro de 2016
Lúcio Miguel Correia
Advogado na MGRA Soc. Advogados e Docente Universitário
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